“Ala: Os Lanceiros da Rainha”

Lanceiros da Rainha - Detalhe 1Lanceiros da Rainha - detalhe 2

‘Hatsheput’

“Seu esplendor e sua forma eram divinas, donzela formosa e florescente.
Assim se descreveu, modestamente, a filha mais velha de Tutmose. Hatsheput, a que ocupou seu trono, guerreira filha de guerreiro, decidiu chamar-se rei e não rainha. Porque rainhas, mulheres de reis, tinham existido outras, mas Hatsheput era única, a filha do sol, a manda-chuva, a de verdade.
E esse faraó com tetas usou capacete e manto de macho e barba de mentira, e deu ao Egito vinte anos de prosperidade e glória.
O sobrinho criado por ela, que dela havia aprendido as artes da guerra e do bom governo, matou sua memória. Ele mandou que essa usurpadora do poder masculino fosse apagada da lista dos faraós, que seu nome e sua imagem fossem suprimidos das pinturas e das marcas e que fossem demolidas as estátuas que ela tinha erguido à sua própria glória.
Mas algumas estátuas e algumas inscrições se salvaram da purga, e graças a essa ineficiência sabemos que existiu, sim, uma faraona disfarçada de homem, a mortal que não quis morrer, a que anunciou: Meu falcão voa para a eternidade, voa além das bandeiras do reino…
Três mil e quatrocentos anos depois, sua tumba foi encontrada. Vazia. Dizem que ela estava em algum outro lugar.”

Lanceiros da Rainha - Detalhe 3

GALEANO, E. Tradução de Eric Nepomuceno. Espelhos: Uma história quase universal. 2ª edição – Porto Alegre: L&PM, 2009.

Lanceiros da Rainha